Organizada cita preconceito e extorsão na cobrança de ingressos
Desde a criação do programa de sócio torcedor Avanti, em 2012, a política de venda e distribuição de ingressos no Palmeiras se alterou por completo. A iniciativa, que começou acanhada, mas tomou corpo a partir da presença do time na Copa Libertadores de 2013, e da campanha na Série B rumo à elite, hoje é uma notável fonte de renda no contexto do futebol moderno, mas segue gerando discussão em diferentes setores da massa torcedora, como nas organizadas.
Como se não bastassem as dificuldades financeiras para manter a organização de pé, e sempre presente nos compromissos do time, as torcidas organizadas, que compõem boa parte do público que frequenta os estádios, além de estarem submetidas a uma tensão com relação a Polícia Militar, e atentas à rivalidade com as outras torcidas, que não raro pode descambar para a violência, têm de enfrentar os preços abusivos cobrados pelas entradas nas novas arenas.
O proclamado legado deixado pela Copa parece não ter trazido muitos ensinamentos em termos de organização. No caso do Palmeiras, após a inauguração do Allianz Parque, em novembro de 2014, o que fez o Avanti decolar nos números e ultrapassar a marca dos 120 mil associados, figurando entre os melhores ranqueados do país, o preço dos ingressos subiu tanto quanto o número de associados e a empolgação por um time competitivo.
A Mancha Verde, maior torcida organizada do Palmeiras, e responsável por grande parte da festa que contagia as arquibancadas do Allianz Parque, fazendo até o torcedor mais conservador levantar da cadeira para soltar a voz e empurrar o time, é uma das principais frentes de oposição à diretoria encabeçada por Paulo Nobre com relação à questão dos ingressos.
Além do preço abusivo, que não raro, dependendo da dimensão do jogo, passa dos três dígitos, outro foco de questionamento por parte da organizada são os benefícios que os sócios conseguem na obtenção dos ingressos. Em sua maioria, torcedores com muito menos vivência em termos de arquibancada, e possivelmente menos ideia em termos de futebol, mas que conquistaram o direito às prioridades ao contribuírem com o clube. Como aponta a equação tida como slogan do programa: “+ sócios Avanti = Palmeiras + forte”.
“Tem uma coisa muito errada nessa questão dos ingressos. O Estatuto do Torcedor diz que o ingresso deve ser comercializado 72 horas antes da partida. Só que esse ingresso começa a ser vendido apenas para uma parte da torcida, que são os sócios Avanti. Não dá para priorizar uma classe. Se há o benefício, tem que ser para todos. É um preconceito, uma forma de segregar a parte da torcida que não está pagando”, apontou Jânio de Carvalho, presidente de honra da Mancha, que compareceu à reunião da CPI das Torcidas Organizadas na última quarta, na Câmara Municipal.
Assumindo ser contra a prática do cambismo, que passou a ser contemplada no Estatuto após o caso da Máfia do Apito, que completou dez anos em setembro passado, o integrante da torcida, que está presente na maior parte dos jogos independentemente das dificuldades, logo comparou a contravenção ao aumento abusivo e súbito no preço dos ingressos, que pode mudar em questão de dias, de quarta a domingo.
“Vamos observar pela lógica do Estatuto do Torcedor. Se o cara não pode comprar uma carga de ingressos e vender com um ágil, porque o clube pode cobrar R$ 20,00 no meio de semana e R$ 120,00 no fim de semana, que é quando o estádio está teoricamente mais lotado, e lucrar do mesmo jeito? Isso não é extorquir o torcedor? O valor é algo fora da realidade. Não dá pra cobrar R$ 200,00 em um ingresso de futebol falando que isso é a paixão do povo”, questionou.
Ao falar sobre ingressos, Jânio, que já foi presidente em exercício da Mancha por dois mandatos, negou qualquer benefício concedido pelo clube com relação às entradas. “Já me ofereceram ingresso de graça, mas eu disse não. O mínimo que um torcedor tem que fazer é pagar os seus ingressos. O que havia no Palmeiras, e que o Nobre gosta de ressaltar, era uma reserva de ingressos, principalmente para jogos no interior. Eram esses ingressos que pedíamos para o clube, os nossos, aqui na capital, comprávamos na bilheteria mesmo”, explicou.
Perguntado sobre a estrutura do novo Palestra, estádio que ficou de fora da Copa do Mundo, mas tem todos os atributos que concernem a uma “arena multiuso”, Jânio, que tentou se candidatar a Deputado Estadual nas últimas eleições, não teve muitos apontamentos a fazer, mas viu como armadilha a questão das cadeiras no setor que foi destinado, de forma fixa, às organizadas – atrás de um dos gols.
“No mundo inteiro é assim: tiram as cadeiras no setor das organizadas”, definiu, entre exemplos como o Borussia Dortmund, o Bayern de Munique. “É mais um motivo que eles arrumam. As cadeiras acabam quebrando, porque ali é um lugar onde o torcedor pula, e a polícia quer te punir, quer te tirar do estádio porque a cadeira quebrou. É essa mania de copiar as coisas de fora e não se atentar aos detalhes”, apontou.
Para o jogo contra o Sport, que acontecerá no Pacaembu neste sábado, por conta do show da banda Muse no Palestra Itália, a Mancha Verde, assim como as demais organizadas do Verdão, devem voltar a ocupar as arquibancadas amarela e verde do estádio. Por conta de uma determinação da diretoria, diante do Grêmio, na última partida do Palmeiras no municipal, as organizadas foram obrigadas a ficar no tobogã.